A Linda Flor

Ayana – Nome de origem da língua amárica da Etiópia. 🌻

Hoje estava voltando da escola e duas garotas cochicharam: “Esse cabelo de bombril é muito feio!”. Pois é, eu estudava em um dos colégios mais populares da Cidade de Kimberley. Não tínhamos muita condição financeira, mas meus pais, guerreiros que eram, conseguiram uma bolsa para mim na maior escola da cidade depois que ele encontrou uma pedra bonita e um homem rico comprou. Meu pai trabalha nas Minas e minha mãe se dedica a cuidar de mim e dos meus dois irmãos. Enfim, cheguei em casa chorando e minha mãe já sabia o porquê…

– Ayana, de novo chorando? Falaram do seu cabelo, né, minha linda pretinha? – Perguntou minha mãe docemente
– Sim, mama! Elas sempre ficam zoando meu cabelo! Por quê não podem respeitar só por causa dele ser cheio? – Questionei aos prantos
– Pois seu cabelo crespo é sua identidade, é sua singularidade, é sua ancestralidade e duas meninas bobas do Ensino Médio não vão entender pois não vivem nossa realidade. A não ser que elas queiram mudar seus conceitos…

Minha mãe, Nuala, sempre com sábias palavras! Ela me consolou até eu cair no sono. Mas estou tão cansada desse preconceito, é todo dia a mesma história. Eu tenho 15 anos e nunca beijei na boca. Os garotos não olham para mim, a não ser de um modo desrespeitoso… Me sinto inferior, sabe?

– Vem, Ayana! Hoje tem jogo de futebol e os meninos mais gatos vão jogar! – Disse minha melhor amiga, Ayla

Não gostava muito de ficar para os eventos da escola, sempre me sentia deslocada, sei lá, mas como estava com tempo livre, fui assistir o jogo com ela.

Ayla era preta como eu, mas ela era brigona. Sempre me defendia quando as meninas me zoavam. Eu não sei porque me deixo afetar por aquelas duas garotas. Elas zoam a Ayla também, mas debochada do jeito que é, ela só respondia às provocações sem papas na língua.

– Ayla e Ayana têm cabelo ‘ruim’! – Gritaram na frente de todo mundo
– E vocês que querem fazer cachinhos e não conseguem com esse cabelo liso? – Respondeu Ayla

Foi até engraçado, àquelas meninas calaram a boca na hora! Queria ter essa audácia da Ayla… Parece ser muitas vezes necessária já que só assim todo mundo para de rir da gente.

– Ayla, vamos embora! Deixa elas… – Eu disse
– Deixa elas nada, Ayana! Elas têm que aprender a respeitar a diversidade. – Respondeu Ayla

Voltei para casa com as palavras da minha mãe e da Ayla, refleti e percebi que o único problema que tinha que resolver estava comigo, simplesmente eu tinha que me aceitar! E no caminho eu encontrei uma flor, uma linda flor, que lembrou o significado do meu nome. Sim, Ayana significa “Linda Flor” e é o que meus cachos são, lindas flores enfeitando a beleza única que eu tenho. Minha beleza preta, minha alma preta, minha cor preta.

Crônica em homenagem à todas belas mulheres pretas que têm orgulho do seu cabelo crespo e lutam contra todo tipo de preconceito, racismo e machismo ainda existente na nossa sociedade atual. Minha total admiração e respeito!
Essa história é para vocês, é para nós! ❤

4 comentários

    1. Ju, obrigada pelo seu apoio! Saber que uma escrita minha te agradou é demais! Gratidão! ❤

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  1. Marcius Bittencourt disse:

    Ai história mais linda!!!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Marcius! Que honra saber que você gostou! Gratidão por acompanhar minhas simples escritas! São de coração! Um abraço!!!

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