Minha Vida na Ponta dos Pés – Parte III

“Você fez sua escolha, agora aguente as consequências.”

Atenção: Texto para maiores de 18 anos!

– É aquela bailarina, Senhorita Jasmine? – Indagou um policial enquanto me apresentava.
– Sim, é ela mesma, Senhor Policial. Ela que eu vi saindo com malas no dia da morte do homem que o senhor perguntou! Eu estava do outro lado da rua e a reconheci pois estudamos juntas! – Respondeu uma menina que parecia que a conhecia de algum lugar.

Espera! Eu conheço ela! É a Jasmine! O que ela está fazendo na minha apresentação no New York City Ballet? Meu grande dia! Eu era a bailarina principal! E com um policial? Como essa vadia me encontrou? – Me questionei conforme dançava “Dance of the Willis”, de Adolphe Adam. Sim, era dia de Giselle. Eu precisava me concentrar…

# Um ano antes…

– Parabéns, Sarah! Você é divina dançando! – Disse meu professor da Escola de Ballet de NYC após minha primeira apresentação como bailarina oficial.
– Obrigada, Scott! – Corri para abraçar ele.

Scott era casado com Brígida, uma bailarina que ficou conhecida por todos pela sua atuação em Swan Lake nos anos 90. Bom, ela esteve no auge do sucesso com essas apresentações. Agora era a minha vez, minha e do Scott…
O que foi? O casamento deles já não andava bem há muito tempo. Eu só queria me divertir um pouquinho…

– Scott, você me acha melhor que a Brígida? – Perguntei para ele enquanto estávamos deitados na cama.

Ele ficou calado. Scott era um homem de 44 anos, que teve sua carreira toda fazendo par de Brígida. Eles tinham mais de 20 anos de carreira. Percebi que o silêncio dele foi uma resposta. Mas ele não se calou por tanto tempo…

– Sarah, que necessidade é essa de sempre se comparar e ouvir que é a melhor? – Scott me questionou e me fez congelar com essa reflexão.
– E…E…Eu não tenho necessidade de me comparar, e bom, eu sei que sou a melhor de todas bailarinas! – Respondi mas com insegurança.

Ele levantou. Se vestiu, e me disse:

– Eu e a Brígida construímos uma carreira e uma vida juntos há quase 30 anos. Você realmente quer se comparar à ela? Pense bem. Você precisa ser mais humilde. E por hoje chega. Se arrume e vai para seu alojamento. Estou cansado e vou para casa.

Eu saí de lá aos prantos, percebi como tudo me afetava. E o Scott não estava errado, eu sempre queria provar que era a melhor. Por que sempre perguntava da Brígida? Lembrei da Jasmine, do High School… Poderíamos ter crescido amigas e unidas, mas sempre fomos rivais porque eu não aceitava ser a segunda melhor. Nunca. E agora, estou entendendo que eu nunca serei A Melhor para o Scott.

Tive um ano incrível em Nova York depois do que aconteceu com o John e a sua esposa. Aquele casal maluco! Mas enfim, depois que fui aprovada na audição da Escola de Ballet daqui, toda minha vida começou a melhorar. Treinava de segunda a sexta. Quase não comia e quando comia, às vezes colocava para fora, até porque eu não podia engordar 100 gramas, né? Sempre fui muito “disciplinada” com isso. Mas quando morava em Montana, a Beth enchia o prato para mim, eu até comia, mas acho que ela sabia que eu vomitava tudo, pois sempre corria para o banheiro quando acabava a refeição. Um dia ela até me questionou, mas mandei ela cuidar da vida dela…
Às vezes tenho saudades de casa, mas a maioria não. Meus pais chegaram a me procurar, mas eu não quis mais contato. Eles disseram “Se é essa a sua escolha, nós respeitaremos, Sarah!”. Até o Phil me ligou! Como ele arrumou meu número eu não sei, não usava redes sociais com fotos minhas. Sim, eu não queria ser encontrada. Estava muito bem vivendo no meu mundo perfeito na cidade mais linda do mundo…

# De volta para o dia da apresentação no New York City Ballet…

Todos os espectadores se assustaram ao fim do primeiro ato, a apresentação teve que ser interrompida pois o auditório estava cheio de policiais. Foi muito estranho… Todos se levantaram após a informação da interrupção da apresentação. Fiquei assustada. O que será que tinha acontecido? Até que quando o auditório estava vazio e todo o elenco dispersado, um policial subiu no palco e veio diretamente em minha direção.

– Senhorita Sarah White? – Questionou o policial.
– Si… Si… Sim… O que está acontecendo? – Respondi gaguejando pois suspeitava que poderia ser algo sobre o John.
– Senhorita Sarah White. A Senhorita está presa pelos assassinatos do Sr. e Sra. Smith.
– Como assim? Eu não matei ninguém! – Respondi firmemente. – Eu tive um caso com o John sim mas a Sra Beatriz descobriu e nos encontrou juntos e ela se matou.
– Isso veremos na delegacia com o Detetive responsável. No momento a senhorita está presa!

Sabem aquela música da banda “The Verve, Bitter Sweet Symphony“? Pois imaginem ela em suas mentes agora. Querem saber o que aconteceu? Bom, eu saí de uma das mais importantes apresentações do New York City Ballet… De algemas diretamente para a cadeia. Vestida de bailarina com a minha sapatilha de ponta para um tênis preto e um macacão laranja no estilo Orange is The New Black. E só consigo lembrar da Jasmine gritando enquanto todos olhavam para mim na saída do espetáculo catastrófico: “Você fez sua escolha, agora aguente as consequências.”

Eu mereci ouvir aquilo. Jasmine não estava errada. Eu fui muito cruel com todos à minha volta. Eu só pensava em mim! E agora eu estou aqui, em uma ala feminina na Penitenciária de Nova York, sendo humilhada e desprezada por mulheres de baixo escalão. Tendo que lavar o banheiro com minhas próprias mãos e dormir com as baratas. Sofrendo com as diversas tentativas de me tocarem, com essas lambidas nojentas pelo meu corpo, escutando “Eu quero essa Patricinha para mim”. Será esse meu fim? O que será de mim agora?

O que eu mais quero no momento? Voltar para Montana e consertar todo mal que eu fiz...

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